FlipMais | Quem é a plateia, quem é o ator?

Nos 450 anos de seu nascimento, personagem cômico de Shakespeare é usado para provocar reflexão sobre o papel do espectador

Tim Crouch em encenação de "Eu, Malvolio", baseada em texto de Shakespeare, na FlipMais deste sábado (2) / Foto: André Conti

Tim Crouch em encenação de “Eu, Malvolio”, baseada em texto de Shakespeare, na FlipMais deste sábado (2) / Foto: André Conti

A vingança de um personagem humilhado por um enredo de Shakespeare – sobre quem ela poderia recair? Ora, sobre a plateia. Essa é a premissa do espetáculo apresentado pelo dramaturgo, ator e diretor britânico Tim Crouch ao condensar em um monólogo os quatorze personagens de Noite de Reis (Twelfth Night; or, What You Will), comédia de William Shakespeare.

Com as luzes acesas, um constante dirigir-se à plateia e a participação (se necessário quase à força) de membros do público, Crouch faz o papel de Malvolio e explora o fato de que sua trajetória é um enredo de humilhação. Provocando constantemente risadas nervosas, denuncia aquilo que elas contêm de cruel perante um personagem que acaba de ser escarnecido. Assim, o ator levanta a discussão sobre o papel do público de teatro e sua responsabilidade numa apresentação.

Malvolio pertence ao panteão dos personagens cômicos de Shakespeare. O mordomo de Noite de Reis, Malvolio se caracteriza por uma mudança brusca de caráter apreciada por atores: um verdadeiro moralista, o criado amolece completamente quando acredita que a personagem Olivia se apaixonou por ele, até o momento da humilhação final, quando o engano é revelado.

O traço distintivo de Crouch é o gosto por romper com tradições teatrais. Eu, Malvolio, de 2010, é a quarta adaptação de Shakespeare feita por Crouch e foi uma encomenda pelos festivais de Brighton e de Singapura. Composta pensando em um público de adolescentes, fez enorme sucesso entre adultos.

(Diego Viana)

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