Archive for the ‘FlipMais’ Category

FlipMais | O Brasil é o país do haikai

31-07-2014

Forma fixa japonesa é a mais praticada hoje no país, diz Adriana Calcanhotto, em mesa da FlipMais em que debateu com o poeta marginal Charles Peixoto

Charles Peixoto e Adriana Calcanhotto participaram de mesa da FlipMais nesta quinta-feira (31) / Foto: Walter Craveiro

Charles Peixoto e Adriana Calcanhotto participaram de mesa da FlipMais nesta quinta-feira (31) / Foto: André Conti

A longa linha poética que vai do escritor japonês Bashô ao grupo Nuvem Cigana no Rio de Janeiro dos anos 70, passando por Oswald de Andrade, envolve o gosto pelo instantâneo, o tempo para a contemplação e a prática da oralidade. O eixo que conduz essa linha é o haikai.

Na mesa “Versos de risco: do hai-kai à poesia marginal”, a cantora, compositora e ilustradora Adriana Calcanhotto e o poeta marginal Charles Peixoto revelaram o vínculo entre a forma do haikai e a poesia marginal. Como membro do grupo Nuvem Cigana, Peixoto foi um dos principais nomes da poesia marginal nos anos 1970, regada a álcool e alucinógenos. Para Calcanhotto, o estado de consciência alterado é semelhante ao abandono do ego que, segundo Bashô, criador do haikai no Japão, era necessário para compor a poesia.

Forma fixa japonesa amplamente adotada no Brasil, desde Monteiro Lobato e Oswald de Andrade, o haikai foi praticado por autores tão díspares como Guilherme de Almeida e Paulo Leminski, Manuel Bandeira e Millôr Fernandes, Carlos Drummond de Andrade e Erico Veríssimo – este último, mais conhecido pela prosa.

Segundo Calcanhotto, o haikai é atualmente a forma fixa mais praticada na poesia brasileira, superando o uso do soneto ao longo do século 19. “Os modernistas, os concretistas e os marginais se interessaram por aspectos diferentes do haikai”, diz a cantora, que também assina as ilustrações da antologia. Ela está publicando na Flip o livro Haikai do Brasil, pela editora Edições de Janeiro. Já Peixoto lançou Supertrampo (Editora 7Letras), sua obra reunida.

(Diego Viana)

FlipMais | Contrabando e tradução no Cone Sul

31-07-2014

Escritores argentinos revelam relações cruzadas e influências mútuas entre o Brasil e a Argentina em mesa da FlipMais

Leandro Sarmatz, entre Leopoldo Brizuela e Damián Tabarovsky, medeia a mesa "Mano a Mano", da FlipMais, nesta quinta-feira (31)

Leopoldo Brizuela, Leandro Sarmatz e Damián Tabarovsky, na mesa “Mano a Mano”, da FlipMais, nesta quinta-feira (31) / Foto: Nelson Toledo

A proximidade e as referências cruzadas entre a cultura e a literatura do Brasil e da Argentina sobressaíram na mesa “Mano a mano”, programação da FlipMais desta tarde. Com mediação do jornalista e dramaturgo Leandro Sarmatz, os escritores argentinos Damián Tabarovsky e Leopoldo Brizuela discorreram sobre o contato da intelectualidade argentina com a produção literária do Brasil e a política de traduções do país vizinho.

Brizuela comentou um fato pouco explorado: o lunfardo, dialeto portuário de Buenos Aires presente em muitos tangos famosos, a começar por aquele que dá título à mesa, possui um grande número de palavras que vêm do português brasileiro. Por outro lado, expressões correntes no Brasil, como “ir em cana”, nasceram na Argentina. “Isso tem algo a ver com o contrabando”, afirma. “Certo dia, os poderosos traçaram uma fronteira, mas sempre houve coisas que passaram, como a cultura.”

Segundo Tabarovsky, a tradução de autores brasileiros passa nos últimos anos por um processo de renascimento na Argentina, graças a editoras independentes que vêm surgindo no país. Na década de 1990, um processo intensivo de compra das editoras argentinas por grandes conglomerados estrangeiros, notadamente espanhóis, quase fizeram desaparecer os autores brasileiros, porque a política de traduções era decidida nas matrizes. Por outro lado, os autores brasileiros traduzidos recentmetne dificilmente conseguem vender. “A literatura brasileira é forte nos catálogos argentinos, não nas estantes”, diz.

Damián Tabarovsky é escritor, tradutor e editor. Em 2011, publicou o romance Una Belleza Vulgar. Leopoldo Brizuela é jornalista, tradutor e escritor. Em 2012, publicou o romance Uma Mesma Noite, vencedor do Prêmio Alfaguara, publicado no Brasil pela Objetiva.

(Diego Viana)

FlipMais | “A leitura é uma questão de segurança nacional”

31-07-2014

Em mesa sobre políticas públicas para o livro e a leitura, especialistas da sociedade civil e do governo debatem as dificuldades enfrentadas pelo incentivo à leitura

Antonio Carlos de Morais Sartini, Fabiano dos Santos Piúba, Paulo Daniel Elias Farah, José Castilho Neto e Cláudia Santa Rosa em mesa da FlipMais nesta quinta-feira (31)

Antonio Carlos de Morais Sartini, Fabiano dos Santos Piúba, Paulo Daniel Elias Farah, José Castilho Neto e Cláudia Santa Rosa em mesa da FlipMais nesta quinta-feira (31) / Foto: Nelson Toledo

Enquanto os Ministérios da Cultura e da Educação se preparam para colocar em votação no Congresso o Plano Nacional do Livro e da Leitura até o fim de 2014, os especialistas reunidos na mesa “Construindo políticas públicas para a leitura”, da FlipMais, são unânimes na ideia de que o principal ator no fomento da leitura no Brasil é a sociedade civil organizada.

A mesa debateu o estado da construção de políticas públicas de leitura no Brasil, nos níveis federal, estadual e municipal. Participaram dois representantes do poder público federal – o secretário executivo do PNLL, José Castilho Neto, e o diretor da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos Piúba – e três representantes da sociedade civil: Paulo Farah, professor da Universidade de São Paulo, Claudia Santa Rosa, fundadora e diretora do Instituto de Desenvolvimento da Educação, em Natal, e Antônio Carlos de Morais Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Segundo Fabiano e Castilho, após uma interrupção de dois anos no Plano Nacional do Livro e da Leitura, iniciado em 2012, no ano passado foi possível retomar o projeto, que tramita ao mesmo tempo nos Ministérios da Cultura e da Educação. “Mas, na verdade, é preciso entender que um plano desses envolve áreas que vão muito além”, diz Castilho. “Afinal, se só 26% dos alfabetizados brasileiros são alfabetizados plenos, a leitura é uma questão de segurança nacional.”

Farah acrescenta também que a leitura é um instrumento fundamental de inserção social, de modo que a leitura é também uma questão de direitos humanos. O plano municipal de São Paulo, ao qual Farah se dedica, foi uma iniciativa da própria sociedade civil, que, em 2012, apresentou um termo de intenções para todos os candidatos à eleição municipal daquele ano.

Claudia, cuja ONG conseguiu garantir recursos para a leitura no plano plurianual de Natal que vai até 2017, afirma que os planos municipais e estaduais são o caminho para garantir que o poder público seja obrigado a investir. Ainda assim, a implantação desses investimentos precisa ser acompanhada de perto pela sociedade civil.

Contando com perguntas e manifestações de uma plateia que contou com participantes de diversos estados do Brasil, os especialistas falaram dos entraves que dificultam o caminho das diversas iniciativas que tentam garantir a legislação e o investimento público necessários em todas as regiões do país. “Todos sabemos que o caminho não é curto e trata principalmente de construir as pontes”, resumiu Castilho.

(Diego Viana)