Forma fixa japonesa é a mais praticada hoje no país, diz Adriana Calcanhotto, em mesa da FlipMais em que debateu com o poeta marginal Charles Peixoto
A longa linha poética que vai do escritor japonês Bashô ao grupo Nuvem Cigana no Rio de Janeiro dos anos 70, passando por Oswald de Andrade, envolve o gosto pelo instantâneo, o tempo para a contemplação e a prática da oralidade. O eixo que conduz essa linha é o haikai.
Na mesa “Versos de risco: do hai-kai à poesia marginal”, a cantora, compositora e ilustradora Adriana Calcanhotto e o poeta marginal Charles Peixoto revelaram o vínculo entre a forma do haikai e a poesia marginal. Como membro do grupo Nuvem Cigana, Peixoto foi um dos principais nomes da poesia marginal nos anos 1970, regada a álcool e alucinógenos. Para Calcanhotto, o estado de consciência alterado é semelhante ao abandono do ego que, segundo Bashô, criador do haikai no Japão, era necessário para compor a poesia.
Forma fixa japonesa amplamente adotada no Brasil, desde Monteiro Lobato e Oswald de Andrade, o haikai foi praticado por autores tão díspares como Guilherme de Almeida e Paulo Leminski, Manuel Bandeira e Millôr Fernandes, Carlos Drummond de Andrade e Erico Veríssimo – este último, mais conhecido pela prosa.
Segundo Calcanhotto, o haikai é atualmente a forma fixa mais praticada na poesia brasileira, superando o uso do soneto ao longo do século 19. “Os modernistas, os concretistas e os marginais se interessaram por aspectos diferentes do haikai”, diz a cantora, que também assina as ilustrações da antologia. Ela está publicando na Flip o livro Haikai do Brasil, pela editora Edições de Janeiro. Já Peixoto lançou Supertrampo (Editora 7Letras), sua obra reunida.
(Diego Viana)